RAIVA

CONSIDERAÇÕES GERAIS

A raiva é uma doença causada por um vírus da família Rhabdoviridae e do gênero Lyssavirus, que possui material genético do tipo fita de RNA simples e negativa (Para a síntese de proteínas é necessário que esse RNA seja transcrito em RNAm). Esse vírus possui uma camada bilipídica que envolve o nucleocapsídeo (de formato helicoidal e simétrico), e sua forma assemelha-se ao de uma “bala de revólver”.

A princípio, quando o patologista e microbiólogo italiano Adelchi Negri identificou o agente etiológico, o classificou como um parasita protozoário. Mais tarde, em 1903, o pesquisador Paul Remlinger descreveu corretamente o agente etiológico: um vírus. Esse agente pode ser inativado por vários meios, um deles, muito interessante, é pela incidência de luz ultravioleta no sistema contendo o vírus.

O CICLO DE REPLICAÇÃO DO VÍRUS

O vírus é reconhecido pela célula hospedeira através dos receptores em sua camada externa (Acredita-se que os receptores desse vírus são de fosfolipídios e não somente de proteínas), e então, por fusão ou endocitose, se infiltra na célula onde começa o processo de reprodução viral.

A transcrição do RNA para RNAm ocorre no citoplasma de onde as fitas desse último se dirigem até os ribossomos para a síntese de proteínas formadoras da cápsula viral. Ocorre a multiplicação do RNA original para a inserção nos capsídeos e a produção dos receptores.

Para finalizar, a união do material genético com o capsídeo recém-formado (nucleocapsídeo) sai então da célula, levando consigo parte da membrana plasmática da célula hospedeira (membrana esta onde o vírus expõe seus receptores de fosfolipídicos), pronto então para iniciar outro ciclo para geração de mais incontáveis vírus.

COMPORTAMENTO DO VÍRUS “IN CORPUS”

O vírus causador da raiva se multiplica no local do ferimento. Daí migra para o tecido nervoso periférico próximo ao local e é transportado dentro do axônio do neurônio até a medula espinhal, e segue até chegar finalmente ao sistema nervoso central. Após atingir o “núcleo do processamento cognitivo” (famoso cérebro), o vírus se espalha através do sistema nervoso periférico atingindo então, glândulas (a salivar é uma delas, o que propicia a infecção via mordida), fígado, músculos, pele e o coração.

A detecção do vírus se dá pela análise do tecido, onde são encontrados os corpúsculos de Negri (Corpúsculos de Inclusão é o nome que se dá, em virologia, às estruturas que se formam no interior da célula infectada durante o período de replicação viral. Os corpúsculos são bem maiores que cada partícula viral e possuem afinidade por corantes ácidos – o que facilita sua detecção). O Corpúsculo de Negri é especial, pois é o único corpúsculo já encontrado que se forma no citoplasma da célula hospedeira.

SINTOMAS, TRATAMENTO E PREVENÇÃO (ESTA É APENAS UMA PESQUISA COM FINS ACADÊMICOS – NÃO SOMOS MÉDICOS. SE NECESSITA DE AJUDA, CONSULTE UM PROFISSIONAL DA SAÚDE.)

Qualquer animal de sangue quente (inclusive o ser humano) pode transmiti-la. A transmissão se dá normalmente por contato direto: mordidas ou arranhões de animais infectados (A saliva ou fluídos do animal infectado em contato com o sangue do animal sadio). Existem casos onde a infecção se dá pela placenta, amamentação ou transplante de córnea.

Os sintomas da doença causada pelo vírus são os seguintes:

1.    Fase Inicial: Dor no local da mordida, seguidas de vômitos, náuseas e mal estar (“mau humor”);

2.    Fase Excitatória: Surgem espasmos musculares intensos da faringe e laringe, muitas dores durante a deglutição de alimentos (mesmo líquido – Daí surge a hidrofobia, um sintoma que erroneamente considera-se como a própria doença);

3.    Na fase final, a morte é iminente (Caso não seja vacinado).

Outros sintomas não listados acima são a irritação excessiva (raiva), alucinações, insônia e ansiedade extrema (Provocados por estímulos aleatórios visuais e acústicos). Na minoria dos casos, pode-se manifestar paralisia muscular e asfixia.

Os danos causados são devidos a encefalite (inflamação e danos no cérebro). Embora pareça estranho, a raiva possui o maior índice de mortalidade (superando os vírus mais temidos como Ebola, HIV, HCV e agentes da dengue e febre amarela).

Não há tratamento estabelecido para a raiva. Até o momento, todas as terapias antivirais falharam (na maioria dos casos). A raiva é uma doença quase sempre fatal. Alguns métodos de coma induzido funcionaram para alguns pacientes. Quanto aos casos de cura, cinco dos seis haviam tomado a vacina anti-rábica antes da inoculação do vírus.

A raiva pode ser prevenida vacinando-se os animais domésticos. A vacina para humanos em casos raros pode desenvolver meningoencefalite alérgica. É por vezes impossível saber se o animal apresentava comportamentos agressivos devido à doença ou se os manifestava por outra razão, logo é importante consultar o médico logo após o contato para receber a vacina, que neste caso previne o aparecimento da doença mesmo após a infecção, desde que administrada imediatamente. Deve-se a Pasteur (Médico e microbiólogo francês) o crédito da síntese da vacina contra a raiva.

Segundo a Wikipédia, “A vacina utilizada de rotina nos programas de saúde pública no Brasil desde 2003 é a Vacina Purificada de Células Vero. Esta vacina foi desenvolvida na França, na década de 1980, faz parte da moderna geração de vacinas contra raiva e é considerada muito segura e potente. No Brasil, é importada pelo Instituto Butantan, em São Paulo, e distribuída e utilizada em todo o país pelo Ministério da Saúde.”

Há na vacina um composto orgânico (β-Propiolactona, um álcool – figura no lado esquerdo do parágrafo anterior.), que inativa o vírus da raiva, não permitindo que ele avance em sua replicação.

PROTOCOLO DE MILWAUKEE

É um tratamento experimental para o tratamento da raiva em seres humanos. O tratamento consiste em colocar o paciente em coma induzido e administrar medicamentos antivirais. Foi criado por Rodney Willoughby Jr, baseado no tratamento de uma garota em Wisconsin (bem sucedido). A paciente Jeanna Giese foi a primeira de três pacientes que sobreviveram a raiva sem receber a vacina anti-rábica.

Houve um caso no Brasil em 2009 confirmado da cura da raiva, um jovem de 15 anos que contraiu a doença após ser mordido por um morcego. Foi curado no Hospital Oswaldo Cruz em Recife.

Exames realizados posteriormente indicaram ausência do vírus no paciente após a aplicação do protocolo, determinando assim a cura.

CURIOSIDADES HISTÓRICAS

O termo “raiva” deriva do latim rabere (um verbo) e significa em português “fúria” ou “delírio”. Assim como as demais línguas indo-européias, o latim possui raiz na língua sânscrita, sendo rabere derivada de rabhas que significa “tornar-se violento”. Os gregos chamavam-na de Lyssa ou Lytta (Loucura, demência).

Há muito se acreditou durante a antiguidade que a raiva era causada por entidades sobrenaturais, como demônios ou maus espíritos. Havia uma lei na Mesopotâmia que lidava com a doença declarando que o dono do animal infectado, caso este último provocasse a morte de alguém, deveria pagar uma indenização ao Estado. Gregos e romanos discutiam a origem e tratamento para doença, um desses que vigorou até Pasteur foi a Cauterização.

O médico italiano Girolamo Fracastoro descreveu que o contato da saliva do animal infectado com o sangue do animal sadio era o motivo da infecção (Aristóteles, na antiguidade, foi o primeiro a propor essa hipótese).

DIA INTERNACIONAL DO COMBATE À RAIVA

Por iniciativa da Aliança para o Controle da Raiva (com sigla ARC, do inglês “Alliance for Rabies Control”), desde 2007 o dia 28 de setembro é dedicado ao combate à doença. Fundada em 2005, na Escócia, a ARC vem estabelecendo parceria com entidades de saúde nacionais e transnacionais no sentido de realizar programações que envolvam o alerta, esclarecimento e combate à doença em todo o planeta.

DESCONTRAÇÃO

Muito tempo antes do feito Épico de Pasteur, o pesquisador Boris Zamochovich, utilizando-se como cobaia, provou que o vírus da raiva pode ser transmitido através da saliva.“Muito tempo antes do feito Épico de Pasteur, o pesquisador Boris Zamochovich, utilizando-se como cobaia, provou que o vírus da raiva pode ser transmitido através da saliva.”

Sobre a β-Propiolactona

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